Nos capítulos
do livro, Aprenda a Mentorear, o
autor Howard Hendriks, em seus primeiro capítulos nos ensina três princípios
fundamentais da Mentoria Cristã: Convicção;
Comunhão e Confrontação.
Estes três
elementos formam a base para mentoria porque o processo de acompanhamento só
pode acontecer quando alguém que se propõe a caminhar com outrem tenha seu caráter
forjado pela experiência de ter suas próprias convicções questionadas e
reafirmadas. As convicções de um mentor revelam seus valores, ou seja, os
princípios que regem sua vida.
A mentoria de qualidade se desenvolve em uma
ambiência amistosa de empatia e verdadeira ligação de coração, onde possa
sentir-se, tanto Mentor quanto mentorado, completamente livres para abrirem os
segredos profundos da alma, falar dos temores mais escondidos, abrir as dúvidas
mais dilacerantes. Isso só acontece quando há verdadeira comunhão entre o
Mentor e seu mentorado.
A terceira
característica é sem dúvida o avanço de uma relação com base na
maturidade, na coragem e na lealdade, à saber: a Confrontação. Desenvolver
amizade é algo necessário, imprescindível na mentoria, mas, a relação do Mentor
e de seu mentorado precisa avançar, pois sem confrontação não haver mentoria de
fato. O Mentor precisa ter a ousadia de expressar-se para apontar as áreas
deficientes na vida de seu mentorado, assim como o mentorado precisar tem a
humanidade necessária para ouvir e receber tais orientações, mesmo que isso o
constranja.
Somos um
projeto inacabado, estamos num processo de tratamento, onde estamos sendo moldados.
No entanto, quando não temos alguém para nos auxiliar neste processo, o que nos resta é sermos forjados pelas
duras experiências da vida. Ter alguém que nos confronta, é mesmo um
privilégio, pois somos alertados quando aos abismos que nos cercam, seja na
vida profissional, familiar ou pessoal.
O Mentor é
alguém que se dispõe a ser uma referência nos momentos onde as palavras se
perdem, ou não são necessárias. Ele sempre esta presente na vida de seu mentorado,
ainda que seja, simplesmente para dizer: “estou aqui”.
A presença do
Mentor é fundamental para o desenvolvimento de seu trabalho, pois não há
mentoria sem ligação de alma, de coração. Estar presente no sentido de ser
capaz de ouvir, sentir, e ter a orientação correta nos momentos de decisão.
Há algo muito
interessante sobre o discipulado, como uma ação relacional, dito por Keith
Phillips (1994, p110), que pode ser usado para compreendermos mais
profundamente o que estamos dizendo:
O amor a
seu discípulo é baseado no seu compromisso para com ele. Transcende sentimentos
emocionais. Muitos dos discípulos de Cristo o abandonaram enquanto ele morria
por eles. Mas o compromisso de Cristo com eles foi inabalável: “... amou-os até
o fim” (Jo 13.1)
Assim como,
seguindo nesta perspectiva, PHILLIPS (1994, P116), faz esta preciosa afirmação,
“você e seu discípulo precisam ter acesso máximo um ao outro a fim de ter um
relacionamento de qualidade”, logo, qualquer intensão de mentoria, sem a
disposição em estar junto, se perderá com o sopro das dificuldades e do tempo,
se não for aquecido e bem amarrado pela amizade, companheirismo e relacionamento
presencial.
GERAÇÕES CONECTADAS
PELA MENTORIA
O projeto
original de Deus consistia em uma conectividade de gerações. A palavra para
criação foi, façamos, para
evidenciar que essa ação criadora de Deus foi no agir coletivo da Trindade e
deve continuar manifestando o agir comunitário interligado por cada elo formado
por cada geração.
Este é o
princípio, onde cada geração cuidará/metoreará, preparando a geração vindoura
nos caminhos do Senhor, preparando-a para continuar a experimentar o cuidado do
Senhor, bem como a comunhão com Ele, vivenciando seus princípios e valores em
amor.
Essa estreita
relação foi experimentada no Jardim do Édem entre Deus e o ser humano. Deus
visitava o homem e a mulher todos os dias oferecendo do seu conselho, ouvindo o
coração do casal e partilhando a vida com eles.
Quando houve a
escolha pelo pecado foi o dia em que a criação de Deus optou por viver sem a
mentoria divina, como que dizendo ao Criador, não precisamos mais dos seus
conselhos e orientações, já somos capazes de viver sem sua ingerência, somos
capazes de fazer nossas próprias escolhas.
O pecado foi, e
continua sendo, a opção errada pela caminhada solitária. A partir de então a
solidão do caminho tornou-se o curso comum a todo ser humano, por isso fazer o
caminho contrário é tão difícil, mas tão necessário, como uma chance que todos
nós precisamos dar a nós mesmos para experimentarmos novamente a saúde do
caminho partilhado.
Para tanto, se
faz necessário ter a coragem de optar por um caminho sem máscaras, em um
relacionamento capaz de abrir o coração em uma caminhada compartilhada, como
bem enfatiza SWINDOLL (1987, p21):
Relacionar
significa aproximar-se das pessoas, sentir os sofrimentos delas, e ser um
veículo de estímulo e restauração para elas. As barreiras tem que ser
derrubadas. As máscaras tem que ser removidas. Temos que colocar a porta de
nossa “casa” placas de boas-vindas. Temos que fazer cópias das chaves da nossa
vida e distribuí-las entre as pessoas. Temos que baixar as pontes de nossos
castelos e permitir que as pessoas atravessem o fosso, e assim partilhem de
nossas alegrias e tristezas.
BARNABÉ, O MENTOR.
Há vários
exemplos na Bíblia, onde o relacionamento e a responsabilidade da mentoria
ficam muito evidentes. Se tomarmos o exemplo de Elias e Eliseu, se analisarmos
o trabalho de preparação que Jesus desenvolveu com os discípulos, são
inquestionáveis e ótimas referências para nós. Jesus, por exemplo, tomar um
grupo de desacreditados e torna-los sucessores de sucesso fazendo com que a
obra do Reino de permanecesse até nossos dias é evidência clara de algo muito
bem feito.
Para
elucidarmos nosso trabalho, vamos pensar sobre como poderíamos definir este
precioso trabalho de mentoria. Em um artigo encontrado dentre os vários trabalhos
importante no site do Instituto Jetro, lemos esta afirmação:
O mentoring
pode ser compreendido como um processo de mentoria onde um tutor/mentor ajuda o
mentoreado a enxergar suas fraquezas e aponta meios de vencê-las,
principalmente através de exercícios práticos e mudança na maneira de se portar
e pensar. Nesse processo a prestação de contas ser torna importante pois sendo
dados os exercícios e proposta a mudança, o mentoreado será responsável por
apresentar um relatório mostrando seu avanço e concretização do plano de
mudança. (GIMENEZ, 2011)
Neste sentido,
somos desafiados a olharmos para o que Barnabé fez com, até então, Saulo, é
algo digno de nossa atenção. Nesta história vemos alguém experimentado sendo
humilde o suficiente para acolher, defender e ensinar o caminho a ser
percorrido.
Quem era Saulo?
Alguém que Deus escolheu, mas para comunidade cristã um perseguidor, um grande
vilão. Por outro lado para os judeus um traidor, digno de desprezo e de
condenação pior do que a que estava sendo oferecida aos cristãos a quem ele
perseguia.
No entanto,
Saulo estava assustado, perdido, sem entender ainda o que estava acontecendo,
até que alguém se dispõe ir ao seu encontro, e quando todos estavam com medo do
perigo que ele representava, foi Barnabé quem o apresentou aos apóstolos, foi
quem ousou dizer, ele está comigo!
O mundo só pode
conhecer a obra missionária do Grande Apóstolo, porque alguém ousou tomar Paulo
pela mão e dizer: ele está comigo! Barnabé assumiu o cuidado por Saulo até que
se tornasse em Paulo, até que fosse capaz de caminhar sozinho e fosse capaz e
entender e viver seu chamado diante de Deus.
Essa é a obra
do verdadeiro Mentor Cristão. Ele toma aqueles que Deus escolhe e chama, os
toma pela mão e o ensina ouvir a voz de Deus, assim como Eli ensinou a Samuel,
e o prepara para ser um verdadeiro servo do Senhor. Disponibiliza dos seus
recursos, da sua companhia, do seu conhecimento e se dispõe a servir e
abençoar, até que aquele com quem caminha esteja preparado para seguir em
frente de forma vitoriosa.
O pastor Abe
Huber (2012, p100), chama este processo de acompanhamento de Fator Barnabé, o
qual define assim: “a manifestação do amor, da paciência e da compaixão de
Jesus”. Ou seja, para ele o fator Barnabé é uma forma de encorajamento aos
irmãos novos na fé, que precisam de cuidado, não um método, precisam ser
acolhidos, abençoados e preparados para viverem o chamado de Deus para eles.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Mentoria
Cristã é a ação de um cristão mais experiente, convicto, capaz, se dispondo a
caminhar junto com um cristão ainda engatinhando, seja na fé, seja no
ministério. Neste processo vão dividir um pouco do que são num clima amistoso,
onde o mentor seja capaz de orientar seu mentorado, as vezes confrontar com
vistas ao crescimento e amadurecimento do aprendiz.
Como vimos, é
possível encontrarmos vários exemplos bíblicos que nos servem de base para
mentoria, mas o trabalho realizado por Barnabé na vida do Apóstolo Paulo foi
especial. Especial pela coragem, pela capacidade de assumir alguém que ninguém
estava disposto a assumir devido ao seu passado. Afinal, estamos falando de um
dos piores perseguidores da Igreja de Cristo.
Mas, Barnabé assumiu
esta difícil missão, pois enquanto todos viam um perseguidor, ele viu alguém que
Deus escolheu e preferiu acreditar nisto e dispor sua vida em realizar este
trabalho. Fazer do antigo perseguidor o homem que Deus escolheu para lhe ser
vaso escolhido.
Este exemplo é
inspirador e deve ser seguido para que a Igreja continue vendo o grande milagre
da transformação, onde vidas desacreditadas se tornem grandes testemunhas do
poder transformador de Deus. Barnabé não estava interessado em aparecer, ele
queria apenas que a obra de Deus fosse completa na vida de Saulo, e isso fez
toda a diferença.
Que o Senhor
levante mais Barnabés em sua Igreja!
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
GIMENEZ,
Guilherme Ávila. Mentoring e Líderes
Cristãos. http://www.institutojetro.com/artigos/gestao-de-pessoas/mentoring-e-lideres-cristaos.html;
2011.
HENDRICKS,
Howard. Aprenda a Mentorear. Venda Nova/MG; Editora Betânia; 2005.
HUBER,
Abe. Discipulado um a um.
Fortaleza/CE; MDA Publicações; 2012.
PHILLIPS,
Keith. A Formação de um Discípulo. São
Paulo; Editora VIDA; 1994.
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